quarta-feira, 7 de julho de 2010

Erro no QA dos outros é refresco...

Há 10 ou 15 anos atrás eu era gerente de qualidade de uma grande empresa de localização, a Bowne Global Solutions. Naquela época, entre outras atribuições, uma das principais tarefas do departamento de língua era fazer controle de qualidade. Quem trabalhou comigo deve lembrar que eu sempre recomendava o bom senso nas avaliações. Sair apontando mudanças preferenciais, ou pior, sair catando errinho para reprovar as traduções nunca foi bem-vindo no departamento. A gente compreendia que a função do QA era achar os erros e apontá-los, mas nossa predisposição era aprovar as traduções e, quando necessário, detectar que determinado tradutor não estava usando os glossários de forma adequada, sugerir fontes de consulta, ou até mesmo trocar o tradutor que não estava se adaptando bem em determinado projeto. Essa época de departamento de controle de qualidade interno ficou no passado e cada vez mais vem sendo terceirizado não só nas empresas locais, mas no mercado de localização como um todo. Com isso, o que acontece hoje em dia? No projeto X, o tradutor A traduz e o tradutor B faz o controle de qualidade. Já no projeto Y, ocorre o inverso. O tradutor B faz a tradução e o A faz o controle de qualidade. Não posso dizer que esse sistema não funciona. É bem verdade que funciona sim e deve custar muito menos para as empresas. Contudo, ainda há muito que melhorar nesse sistema. Os principais desafios que vejo são:
1) Tradutor A e B têm diferentes percepções sobre o que é um erro major, critical etc. por mais que haja descrições detalhadas e definições quase específicas. Dependo da empresa, um erro major chega a valer por 5 erros minors e com certeza isso impactará o resultado, dependendo do volume da amostra.
2) Muitas vezes, erros preferenciais são categorizados como erros minor (eu já vi até mesmo como major).
3) O terceiro desafio que eu vejo não é bem uma constatação, e sim uma pergunta: até que ponto tradutores A e B, competidores ou amigos, podem avaliar um o trabalho do outro? Como ficam as questões éticas? Para ilustrar esse ponto, quero contar um caso verídico. A tradutora A recebeu um "Fail" em um projeto. Quando olhou o formulário de QA, viu o nome da revisora. Surprise surprise: uma grande amiga dela. Bom, ela olhou ponto por ponto, solicitou que fossem revistos alguns com os quais não concordou, solicitou também que fossem revistas as categorizações de vários erros (major vs. minor e preferential) e seguiu a vida. No próximo encontro entre amigas, ela não aguentou e comentou: puxa, fulana, esses dias você detonou meu trabalho em um QA da empresa X. Qual não foi a surpresa e o espanto da amiga tradutora quando a amiga revisora respondeu: ual, era seu trabalho?? achei que era trabalho da sicrana. ela constumava fazer as traduções dessa conta. Puxa, se eu soubesse que era você, teria pegado mais leve...

Ora bolas, o que é isso? Aos amigos tudo, aos inimigos a lei?

Bjs, Lilian

3 comentários:

  1. É mesmo inacreditável... Quando ouço essas histórias, fico sempre na dúvida se isso é fruto de uma legítima falta de ética ou uma monstruosa inflexibilidade e arrogância!

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  2. Ou uma mistura das duas coisas. Ou desespero rsrsrs

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  3. Desespero é muito bom, voto nessa opção!!!! hahaha

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